Polícia do RJ apreende menor por ofensas a filha de ator na internet

Filha de Bruno Gagliasso foi alvo de ofensas racistas no mês passado.
Jovem confessou ter criado perfil falso; polícia levou outras 7 pessoas à DP.

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Racismo no trabalho diminuiu, mas há longo caminho à frente, diz autor

A participação de negros em cargos executivos de empresas ainda é muito baixa no Brasil.

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Segundo dados do instituto Ethos, em estudo sobre as 500 maiores empresas que operam no país, eles representam 4,7% do quadro executivo. Na gerência, um nível abaixo na hierarquia, esse percentual sobe um pouco, para 6,3%. Entre supervisores chega a 25,9%.

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Nossos parabéns a todas as mulheres

Manifesto de repúdio do Conepir a qualquer ato de discriminação

Nos dias 24, 25 e 26 de abril de 2015, Piracicaba terá sua primeira Conferência Conjunta de Direitos Humanos.

O Conepir defende a adoção de todas as crianças por todos os tipos de casais (heterossexuais e homo-afetivos), irrestritamente.

Confira abaixo uma de muitas histórias bem sucedidas, retirada do portal Estadão, contada diretamente por um casal que possui todas as estruturas necessárias e legais para desenvolver mais um futuro cidadão.

Casal gay conta história de adoção do filho, rejeitado por três casais heterossexuais: “Acharam ele muito feio e negro demais”.

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Gilberto Scofield Jr, PH e Rodrigo Barbosa: “Somos uma família como qualquer outra família do país”. 

 

Hoje por Gilberto Scofield Jr, Jornalista

No fim de outubro, terminado o segundo turno das eleições, um telefonema de um dos grupos de adoção empenhados na busca ativa de pais para crianças em abrigos nos avisou. Havíamos sido habilitados pela Vara de Família do Rio em julho e, três meses depois, uma criança que se encaixava em nosso perfil estava num abrigo numa pequena cidade no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais. Partimos, com os corações aos pulos, eu e meu companheiro de 12 anos, numa viagem que nos pareceu interminável até Capelinha, cidade no Norte de Minas onde fica o Abrigo Lar Mamãe Dolores. Trata-se de uma jornada de avião até Belo Horizonte, outro voo até Montes Claros e quatro horas de carro alugado até Capelinha.

Durante a jornada, dentro do carro – e são 252 quilômetros entre Montes Claros e Capelinha – nossas cabeças doíam na expectativa do que poderia acontecer: será que ele vai com a cara da gente? E se ele não gostar de dois pais? Entre as intermináveis plantações de eucalipto que margeiam a rodovia estadual MG-308, a ansiedade só fazia crescer. Depois da ida à Justiça local, da visita ao advogado que daria entrada no pedido de guarda provisória, chegou a hora de conhecer o moleque.

O Lar Mãe Dolores é um abrigo simpático e simples para uma cidade paupérrima como Capelinha. PH estava lá: um menino de quatro anos que foi se aproximando desconfiado, mas que depois de 15 minutos, já estava brincando alegremente de carrinho com a gente. Nossos corações se encheram de esperanças, era emoção demais, carência demais de um lado e do outro, vontades súbitas de cair em prantos a troco de nada.

Negligenciado pelos pais alcoólatras, PH foi parar no abrigo aos dois anos de idade quando a mãe morreu (aos 28 anos) de complicações do vício. O pai decidiu que não queria mais criar o filho. Seis meses depois, uma mulher solteira em São Paulo o pegou para adoção, mas acabou denunciada pelo próprio irmão e por uma vizinha por maus tratos, obrigando a Justiça intervir, devolvendo-o de novo ao abrigo. Mais uma rejeição.

Antes de nós, três casais heterossexuais já haviam visitado PH no abrigo e também o rejeitaram: dois porque o acharam “muito feio”. O terceiro porque, para eles, PH era “negro demais”. Hoje, nós completamos quatro meses com ele no Rio, em nossas vidas. Ele está num pré-escolar, frequenta aulas de natação e ginástica e não poderia estar mais feliz com as novidades da nova vida. É um exercício especial de paternidade, aquela busca delicada entre dar a ele a sensação de pertencimento e acolhimento que ele precisa numa família que nunca teve e os limites que um menino de (agora) cinco anos precisa num momento em que testa tudo em relação à autoridade dos pais. Precisamos dar amor e ensinar o que é amor. Mas precisamos educar. Não faz parte de nosso planos criar um pequeno tirano. Como diz uma amiga: ser pai é a arte de dizer não. Mas não é assim em todas as famílias?

Toda essa história que aconteceu nos últimos meses e virou a minha vida – e a de meu companheiro – de cabeça para baixo, com um final mais do que feliz e que pode ser conferido por todos os amigos que nos cercam, é apenas para deixar claro o seguinte: nós – eu, meu companheiro, nosso filho PH, nossos dois gatos e nosso cachorrinho – somos uma família como qualquer outra família do país.

Esta colocação tem uma razão: a tentativa do inominável deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara e membro da bancada evangélica que se esmera como pode pela medievalização do país, decidiu ressuscitar o Estatuto da Família, que restringe a casais heterossexuais a adoção de crianças, entre outras medidas, como a proibição irrestrita do aborto. Isso num momento em que há farta literatura científica provando que crianças criadas por casais homossexuais não diferem em nada de crianças criadas por casais heterossexuais.

Portanto, os fundamentos de Cunha – o mesmo que começou sua carreira política de conchavos ao ser nomeado presidente da finada Telerj, ainda no governo de Fernando Collor de Melo (o que dá bem a ideia da trajetória política do deputado) – são meramente religiosos. E aí voltamos às intermináveis tentativas da bancada evangélica de acabar com a laicidade do Estado, transformando-o numa interpretação tosca e manipulada da Bíblia protestante.

Não, deputado Eduardo Cunha. O senhor não tem o direito de determinar o que é família num mundo em transformação e num país onde o percentual de famílias chefiadas por mulheres passou de 22,2% para 37,3%, entre 2000 e 2010, segundo dados mais recentes do Censo Demográfico de 2010. Isso não torna as adoções lideradas por casais homossexuais mais perfeitas ou melhores que as adoções feitas por casais heterossexuais. Simplesmente não há diferença constatada por qualquer estudo científico sério.

O que o Estatuto da Família faz é dar aos casais heterossexuais o monopólio da criação “perfeita” de filhos, quando todos nós conhecemos casais heterossexuais cujos filhos são desajustados ou simplesmente maus. O noticiário está aí cheio de exemplos de rapazes e moças que atropelam e matam pessoas sem prestar socorro. Ou bandos de jovens de classe média bem criados cuja maior diversão é tacar fogo em mendigos ou bater e espancar prostitutas, gays e nordestinos.

Não, deputado Eduardo Cunha. A paternidade virtuosa não é um monopólio da heterossexualidade. E caso a sua religião não pregue a tolerância, preste atenção num fato muito simples: toda a criança adotada por um casal de gays ou de lésbicas foi abandonada/espancada/negligenciada por um casal heterossexual, esse mesmo que o senhor julga serem os únicos capazes de criar filhos “normais”.

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Nesta terça-feira, 24/02, ao meio-dia, será feito um “tuitaço” e um “facebookaço” contra o estatuto da família usando a hashtag #emdefesadetodasasfamílias. Publique a foto da sua família, seja ela qual for: sem filhos, formada por um pai e seu filho, uma mãe e seu filho, dois pais e seus filhos, duas mães e seus filhos, casal heterossexual e filhos, avó e neto, transexuais e seus filhos e toda e qualquer forma de família.

Bonecas negras ensinam a combater o racismo brincando

De Douglas Belchior

Em tempos de Carnaval, festa popular de fortes raízes afrobrasileiras, é sempre bom lembrar que apesar dos sorrisos, gracejos, admiração e suspiros provocados pelo corpo negro nas avenidas e consequentemente nas estampas de jornais, revistas e TV, os quatro dias de folia não compensam o racismo violento e cotidiano que sofremos no Brasil.

Por isso, em pleno final de semana de festa, resgatamos o brilhante trabalho da jornalista Danielle Silveira, publicado pelo respeitadíssimo jornal Brasil de Fato, em Dezembro de 2013. Trata-se da matéria “Bonecas negras ensinam combater o racismo brincando”, tema pelo qual iniciamos a aula no Cursinho Comunitário da Uneafro-Brasil, no núcleo da cidade de Poá.

Vale muito a pena ler e compartilhar!

 

Por Daniele Silveira – Brasil de Fato

O racismo e a vontade de se ver representada levaram Ana Júlia dos Santos a usar sua arte como forma de expressar as especificidades da população negra brasileira. Há 15 anos, a artesã faz bonecas negras, que subvertem o estereótipo “nega maluca” e fornecem novas armas para o combate ao preconceito.

Ana Fulô, como é conhecida, conta que foram poucos os brinquedos durante sua infância, mas lembra de “nunca ter tido uma boneca negra”. Talvez, mais marcante do que a falta de referências ainda quando pequena tenha sido o relato de uma de suas netas sobre um trabalho de escola em que deveria montar uma “bonequinha”.

“A professora disse ‘Agora quando você fi zer a boneca negra, você põe um pedaço de Bombril [esponja de aço] para imitar o cabelo dela’. Ouvi esse relato da minha neta. A minha filha ficou mal, se dirigiu à professora e questionou isso. Foi retirado o trabalho. Não foi feito mais.”

Coincidentemente, com a experiência de racismo vivida pela neta, Fulô explica que procurou uma feira para expor seu artesanato, mas não havia mais vagas. Então, a coordenadora do espaço sugeriu que ela fizesse bonecas negras, pois a artesã que desenvolvia esse trabalho havia falecido. Neste encontro de situações, Fulô deparou-se com a oportunidade de expressar sua identidade e combater o racismo.

“Eu notei que as meninas negras brincam com as bonecas brancas, mas nem sempre as meninas brancas brincam com as bonecas negras. Então, eu quis tirar aquela maneira da pessoa tratar a boneca negra como a ‘nega maluca’. Eu quis fazer as meninas bonitas. Então, eu comecei a trabalhar nesse sentido até para elevar a autoestima das nossas crianças e mostrar para elas que os brinquedos delas podem ser tão ou mais bonitos que os outros.”

Olhos claros, pele escura

No circuito das grandes lojas de brinquedos são raras as bonecas negras. E quando estão presentes, geralmente trazem traços característicos de pessoas brancas, alterando apenas a cor da pele. Dessa forma, fabricantes de brinquedos não se intimidam em apresentar bonecas negras com olhos verdes ou, ainda, reforçar preconceitos com a reprodução de estereótipos.

Artesã e professora do Ensino Fundamental, Lúcia Makena faz bonecas negras há mais de dez anos. Ela avalia que o mercado formal de brinquedos não demonstra interesse em conhecer e representar a população negra.

“A indústria, eu acredito que quando ela faz uma boneca negra, ela não está muito preocupada com a questão da identidade e da cultura. Eu acho que eles só colocam tinta marrom e pronto, né. E a preocupação que eu acho que as empresas deveriam ter é de pensar quem é esse povo negro, qual é essa cultura, qual o seu modo de ver a vida, o que é importante para eles, e eles [as empresas] não se preocupam com isso.”

Arte-educadora, Makena ainda destaca a importância do trabalho para a educação das crianças na questão da diversidade étnico-racial. “Eu acredito que os brinquedos fazem parte desse processo de formação das crianças. Então, você tem que fazer bonecas contemplando as etnias. Não pode a criança passar a vida inteira comprando bonequinhas loiras, loiras, loiras, se muitas vezes elas não são loiras e muitas vezes elas não vão se identifi car com aquilo. Vai trazer uma impressão de que a sua referência de beleza é outra.”

Brincadeira séria

Assim como Makena, Fulô considera fundamental a função educacional dos brinquedos. “Nenhuma criança nasce preconceituosa. Isso é coisa que vão colocando na cabecinha dela. Eu acho que a partir do momento que ela começa a brincar, ela tem um entendimento da diversidade de raça. Coloca as duas para a criança brincar, se a gente percebe que ela não integra a boneca negra nas brincadeiras, então, ali tem algum problema. Aí é que se começa a trabalhar a cabecinha da criança.”

Para Fulô, mais do que bonecas, suas criações são personagens que possuem histórias próprias. Juntamente com a arte do desenvolvimento de cada novo molde, roupas e outros adereços que acompanham suas meninas, ela pensa  também na identifi cação de cada boneca. Assim, costuma presentear quem compra seu trabalho com textos sobre o que ela imagina para cada menina.

Ninguém nasce racista

Em sua experiência pessoal na exposição e venda de bonecas negras, Fulô conta que não costuma encontrar resistência ao seu trabalho nas crianças, mas sim nos adultos.

“Muitas vezes vi uma menina branca falar ‘ah, eu quero essa boneca!’ Aí o pai ou a mãe falar ‘Mas justamente essa?! Por que você não escolhe outra? Eu compro a que você quiser’. E a menina bater o pé e falar ‘ Não. Eu quero essa!’. Existe uma certa relutância em relação aos pais darem a boneca para a menina.”

Lúcia confirma que há maior preconceito entre os adultos, e compartilha a reação comum entre os pequenos diante de suas criações.

“As crianças dificilmente têm rejeição porque criança e é criança. Como dizia Mandela ‘nenhuma criança nasce odiando’. Então, elas veem, gostam, pegam, abraçam.”

Artistas como Ana Fulô e Lúcia Makena encontraram um jeito divertido de educar. É muito mais que uma forma criativa de melhorar os rendimentos. A cada pedaço de tecido remendado, vão ajudando a costurar um país que respeita a diversidade.

Acompanhe o site do Negro Belchior via carta Capital

http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/03/03/2859/

Rede de defesa às vítimas de preconceito racial é oficializada

 

Data: 14/11/2014

O prefeito de Piracicaba, Gabriel Ferrato, assinou ontem, 13, convênio com a Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo, que inclui a cidade na rede de proteção às vítimas de preconceito racial, com base na Lei 14.187/2010. Para acessar o serviço, basta o cidadão entrar na página online da Prefeitura (www.piracicaba.sp.gov.br) e clicar no logo São Paulo Contra o Racismo. Automaticamente, será direcionado a um cadastro para descrever o caso, que é imediatamente analisado pelo setor jurídico da Secretaria e acatado, em caso de sustentação da denúncia prevista na Lei 10.177/98, a qual regula o processo administrativo no âmbito da administração pública.
“Estamos dando mais um passo na construção do edifício da cidadania em Piracicaba. São duas as linhas principais de nosso trabalho: de um lado, dotar o município de elementos institucionais que assegurem a garantia de direitos; de outro, uma atuação efetiva na defesa de valores sociais e democráticos que ajudem a disseminar uma cultura de respeito entre os cidadãos, o que inclui o respeito e a convivência harmônica com a diversidade. Temos a convicção de que esse é o caminho para o bem-estar social, como demonstram as sociedades mais avançadas. Para isso, temos que  romper todas as barreiras com relação a qualquer tipo de preconceito”, disse o prefeito Gabriel Ferrato.
Paralelo ao serviço que passa a ser oferecido em Piracicaba pelo governo estadual, também foi instituído na cidade, junto ao SIP 156, da Prefeitura, o Disque Racismo, que acolhe denúncias de racismo e as encaminha ao Ministério Público. Tanto o convênio estadual quanto o SIP 156 atendem às reivindicações levantadas na 1ª Conferência de Promoção da Igualdade Racial, realizada em Piracicaba pela Prefeitura e pelo Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Piracicaba (Conepir).
Durante a assinatura do convênio, no gabinete do prefeito, a representante da secretaria estadual  da Justiça e da Defesa da Cidadania, Elisa Lucas, Coordenadora de Politicas para População Negra e Indígena, expressou seu carinho por Piracicaba, em especial pelo fato de o setor público local não apenas demonstrar respeito às questões éticas e raciais como também se empenhar para criar mecanismos institucionais efetivos de combate ao preconceito no município. Ao observar que o governador Geraldo Alckmin também está trabalhando com celeridade para ampliar a cota de negro nos concursos públicos do estado, destacou: “As políticas afirmativas são um remédio amargo mas temporários para resolver um problema histórico do país”.
De acordo com o coordenador-político da Conferência de Promoção da Igualdade Racial de Piracicaba, Adilson Abreu, o convênio e o SIP 156 são relevantes, pois agora o cidadão negro, quando vítima de racismo, discriminação ou injúria racial, tem mais de um canal de defesa à sua disposição, que o conecta diretamente com instâncias maiores, como o Ministério Público e a Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania.
Adilson Abreu disse também que esse tipo de serviço que não exige a presença do denunciante é fundamental para o avanço da rede de proteção contra o racismo. “Ao telefone ou pelo cadastro online o cidadão se sente mais à vontade para se expor e contar detalhes do ocorrido, sem que se sinta constrangido diante de alguém em uma entrevista pessoal”, observou. As denúncias que chegam pelo SIP 156 são encaminhadas ao Conepir, que tem sete dias úteis para encaminhar a vítima à delegacia de polícia, para a instauração de inquérito policial.
O Ministério Público e o Poder Judiciário também são comunicados formalmente pelo Conepir dos casos de racismo no município, para que as instâncias registrem suas estatísticas e mapas de ocorrências de crimes dessa natureza, a fim de colaborarem na elaboração de políticas afirmativas e positivas.
Segundo o Disque Racismo SIP 156, racismo é a teoria que divide a raça humana em diversas outras, utilizando diferenças baseadas em etnia, descendência ou cor de pele. Portanto, uma atitude racista é aquela que visa demonstrar falsa superioridade de uma “raça”, prejudicando a vítima e desrespeitando a Constituição Brasileira. Normalmente, essa postura se manifesta como discriminação, que pode impedir inclusive a vítima de exercer seus direitos, seja por causa de atitudes que denotam exclusão social, profissional ou familiar.

EM DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS E DA DIVERSIDADE DE PRÁTICAS E PRECEITOS RELIGIOSOS.

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e, se podem aprender a odiar, podem se ensinadas a amar.”

(Nelson Mandela)

 Em 21 de janeiro de 2015, data em que se comemora o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, o Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Piracicaba – CONEPIR posiciona-se a favor dos direitos humanos e da liberdade religiosa e reafirma os princípios definidos no Encontro de Cúpula Mundial de Lideres Religiosos e Espirituais pela Paz Mundial, quando, reunidos em Nova York, lideranças evangélicas, católicas, budistas, judaicas, islâmicas, espíritas, hinduístas, taoístas, bahá’ís, esotéricas e de religiões antigas e modernas, registrando o documento intitulado O Compromisso com a Paz Global, onde se lê:

• as religiões têm contribuído para a Paz no mundo, mas também têm sido usadas para criar divisão e alimentar hostilidades;

• o nosso mundo está assolado pela violência, guerra e destruição, por vezes perpetradas em nome da religião;

• não haverá Paz verdadeira até que todos os grupos e comunidades reconheçam a diversidade de culturas e religiões da família humana, dentro de um espírito de respeito mútuo e compreensão.

[E o grupo reunido assume o compromisso de:]

• condenar toda violência cometida em nome da religião, buscando remover as raízes da violência;

• apelar a todas comunidades e grupos étnicos e nacionais a respeitarem o direito à liberdade religiosa, procurando a reconciliação, e a se engajarem no perdão e no auxílio mútuos;

• despertar em todos os indivíduos e comunidades o senso de responsabilidade, compartilhada entre todos, pelo bem-estar da família humana como um todo, e o reconhecimento de que todos os seres humanos – independentemente de religião, raça, sexo e origem étnica – têm o direito à educação, à saúde e à oportunidade de obter uma subsistência segura e sustentável.

 

Por que, em pleno século XXI, ainda é necessário combater a intolerância religiosa?

Dentro do contexto histórico-social e da realidade nacional e internacional vivida em tempos passados e atuais, a construção de uma sociedade democrática, igualitária e com respeito à diversidade infelizmente mostra-se, muitas vezes, uma utopia.

No que se refere especificamente à questão religiosa, as práticas sagradas sejam definidas como formulações metafísicas ou como práticas concretas, orientam a forma de organização de diferentes grupos humanos, suas concepções e produções culturais, leis e conceitos morais socialmente aceitos ou contestados. Por essa razão, o princípio democrático é um caminho a ser percorrido e que necessita ser construído.

Levando em consideração os preceitos éticos e humanitários, o artigo 5º, inciso VI, da Constituição federal do Brasil define como direitos que: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.

Do mesmo modo, a liberdade de escolha e expressão religiosa, enquanto parte dos direitos fundamentais da humanidade, é afirmada pela a Declaração Universal dos Direitos Humanos, da qual todos os países que se definem como democráticos são signatários.

Em 1981, a Organização das Nações Unidas – ONU proclamou a Declaração sobre a eliminação de todas as formas de intolerância e discriminação fundadas em religião ou crença, segundo a qual:

“Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Este direito inclui a liberdade de ter uma religião ou qualquer crença de sua escolha, assim como a liberdade de manifestar sua religião ou crença, individual ou coletivamente, tanto em público quanto em particular”.

 

A discriminação religiosa tem sido responsável pela exclusão social, econômica, política e cultural e, o que é pior, por guerras e múltiplas formas de violência cotidiana, moral ou física.

E, como afirma  documento Diversidade religiosa e Direitos Humanos, publicado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos e Presidência da República:  “No momento em que alguém é humilhado, discriminado, agredido devido à sua cor ou à sua crença, ele tem seus direitos constitucionais, seus direitos humanos violados; este alguém é vítima de um crime – e o Código Penal Brasileiro prevê punição para os criminosos”.

O preconceito manifesto ou oculto sobrevive onde não há o respeito, traduzindo-se em humilhação e exclusão do “outro”, o “diferente”, o “não eu”. Trata-se, certamente, de expressão do pensamento autoritário, de tentativa de imposição de “uma verdade” que não é aceita ou praticada pelo “outro”.

Diante da abrangência e complexidade do tema e com a modesta pretensão de estimular a reflexão, é pertinente a apresentação de alguns aspectos e exemplos históricos relacionados à problemática.

Os dados históricos registrados por meio da escrita e desde tempos imemoriais, por meio dos registros da cultura material, revelam que o homem organiza-se em sociedade e cria mecanismos de produção e reprodução cultural, o que envolve certas noções de verdade e adequação, bem como certas práticas condizentes com elas.

Nos pré-históricos agrupamentos humanos são encontradas pinturas rupestres registrando práticas religiosas e de sepultamento que indicam a presença de concepções ligadas ao sagrado e manifestadas em rituais.

Nas primeiras civilizações de que se tem notícia, no Oriente Próximo Asiático, são encontrados restos de cultura material com templos e documentos em escrita cuneiforme que atestam a existência de preceitos claros a serem seguidos tanto nos rituais religiosos, quanto na vida diária, surgindo ali as primeiras escolas para formação de sacerdotes

Na Grécia clássica também eram claros os preceitos a serem seguidos e as formas definidas para a exteriorização dos cultos aos deuses – o que se pode perceber nas construções religiosas, nos ritos cívicos e mesmo nas olimpíadas e nos teatros, que eram, inicialmente, momentos de culto aos Deuses do Olimpo.

Na Idade Média ocidental, a hegemonia religiosa na Europa Ocidental e sua oposição à hegemonia religiosa do mundo islâmico, dentre outros conflitos, levaram às Cruzadas, às “guerras santas” e diferentes formas de perseguição entre os seguidores das religiões em confronto.

Na Idade Moderna, as imposições de conversão forçada, a Inquisição e a doutrinação de povos nativos americanos e africanos, juntamente com a escravização, foram outras modalidades de intolerância e violência contra a Fé.

No período contemporâneo, apesar dos direitos juridicamente e socialmente declarados, a heterogeneidade de povos e culturas não foi respeitada, fato que se confirma pelos processos de extermínio, na Segunda Guerra Mundial e em diferentes outros momentos e conflitos religiosos, como ainda é possível testemunhar no Oriente Médio, na África, na Índia, na Europa e nas Américas.

O racismo institucionalizado, assim como a definição de religiões oficiais, ou da proibição de práticas religiosas – como na antiga União Soviética – e as explícitas ou veladas formas de perseguição têm impedido a concretização da convivência pacífica, pautada por preceitos democráticos e igualitários.

Em contraposição a esse quadro, e mais uma vez em nome dos direitos humanos universais, em março de 2011, em Genebra, a missão brasileira no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em sua Declaração oficial afirmou que “O Brasil deplora veementemente todas as ações de discriminação e incitação ao ódio religioso que vêm ocorrendo em várias partes do mundo. Muitas vidas inocentes foram perdidas por causa da intolerância e da ignorância”.

Não obstante os princípios proclamados pelas nações autodeclaradas democráticas, em muitos países a diversidade – de origem, etnia, práticas religiosas e outras – dificulta a convivência, na medida em que os indivíduos assumem posturas radicais, primando pela intolerância, xenofobia, racismo e incontáveis formas de preconceito.

Como afirmou Mahatma Gandhi: “A regra de ouro consiste em sermos amigos do mundo e em considerarmos toda a família humana como uma só família. Quem faz distinção entre os fiéis da própria religião e os de outra, deseduca os membros da sua religião e abre caminho para o abandono, a irreligião”.

A incorporação dos princípios de pluralidade e diversidade significa o reconhecimento da existência de diferentes culturas, etnias e religiões e a compreensão de que as diferenças caracterizam a existência humana. Portanto, para preservar as sociedades que primam pela igualdade de direitos faz-se necessária a defesa das liberdades e identidades individuais e coletivas.

Marilda Soares

Câmara realiza “Roda de conversa” em alusão ao dia internacional dos direitos humanos e contra a intolerância religiosa

    Na última quarta-feira, 10 de dezembro, o gabinete da vereadora Madalena, em parceiria com o Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Piracicaba e o movimento de combate à intolerância religiosa de Piracicaba e região, realizou um encontro, chamado “Roda de conversa”, em cumprimento à lei 13504/09, com o objetivo de reunir representantes de diversas religiões e culturas para discutir as diferenças e peculiaridades de cada segmento religioso.

    Com diálogos amplos e respeitosos, foram apresentadas demandas, sugestões e esclarecimentos de cada representante.

    Entre os presentes na reunião, destacaram-se católicos, umbandistas, zeladores de casas de Candomblé, adventistas do sétimo dia, mormons, filosofia Sei-sho-no-iê, além de muitos outros convidados de diversas vertentes da fé.

    Foram debatidos temas de interesse universal, como as ligações entre o divino e o sagrado, práticas de adoração, meditação, ritos e cerimônias, e a inter-correlação dessas práticas com a sociedade, política e a história.

    Ao fim da reunião, foram apresentadas ideias para melhor interpretação e colaboração, como o mapeamento dos pontos de culto religioso, propostas de continuidade do grupo que formou a “roda de conversa”, tornando-o permanente, promoção de conhecimentos sobre práticas distintas de fé. Foi lembrado, também, que o dia 21 de janeiro tornou-se o dia nacional de combate à intolerância religiosa, após a morte de uma pessoa vítima da falta da conhecimento sobre suas práticas.

Após Consciência Negra, jornalista do SBT diz que ‘Hoje é dia de branco’

Apresentadora do Notícias da Manhã, do SBT, Neila Medeiros cometeu uma gafe na edição desta segunda-feira (24). A jornalista disse que hoje é “dia de branco, dia de trabalhar”, enquanto comentava o trânsito em São Paulo na volta do feriado da Consciência Negra, na última quinta (20). O trocadilho usado para se referir à segunda-feira é comum, porém gerou má interpretação por ser dito após a data de reflexão da escravidão de negros no Brasil.

Neila Medeiros mostrava imagens de helicóptero do movimento nas avenidas da capital paulista após o feriado prolongado. A repórter Carolina Aguaidas, do estúdio, trazia informações do número de vias congestionadas e comentou que muitas pessoas ainda estavam voltando de viagem na manhã desta segunda.

“A cidade tem cerca de 15 km de pontos de congestionamento agora. Bastante movimentação, muita gente ainda voltando do feriado prolongado e indo direto para o trabalho”. disse Aguaidas. Depois, mostrou imagens da marginal Tietê e informou a previsão do tempo.

Na sequência, Neila Medeiros disparou: “E hoje é dia de branco, não é, Carol? Dia de trabalhar”. A expressão “Dia de branco” remete à segunda-feira e tem origem incerta, entre marinheiros que colocavam uniforme branco para trabalhar ou entre escravos que na segunda trabalhariam para o senhor “branco”. O uso da expressão após o feriado de Consciência Negra pela jornalista, entretanto, pegou mal.

O Dia da Consciência Negra lembra a morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares, em 20 de novembro de 1695, e promove a reflexão da escravidão de africanos no Brasil.

Neila Medeiros assumiu o Notícias da Manhã em 6 de novembro, às pressas, no lugar de César Filho, contratado pela Record. A jornalista, que já apresentava este e outros telejornais durante as férias dos âncoras, praticamente manteve a audiência: 3,9 pontos nas últimas primeiras semanas, contra 4,2 de César Filho. Cada ponto equivale a 65 mil domicílios na Grande São Paulo.

Recentemente, Silvio Santos também se envolveu em uma gafe racial. Durante o Teleton, no dia 7, indagou à atriz mirim Julia Olliver, da novela Chiquititas, sobre o cabelo encaracolado dela, após a menina de 11 anos ter dito que quer ser “atriz ou cantora”. Ela retrucou: “Mas com esse cabelo?”. Telespectadores acusaram o dono do SBT de racismo, e a atriz rebateu nas redes sociais: “Meu caráter, esse sim, é mais importante que o meu cabelo”.

 

Fonte: Coluna “Notícias da TV”, portal Uol

Em breve…