Pedro Mello, Secretaria Municipal de Saúde de Piracicaba, visita o Ambulatório Estadual de Saúde Integral para Travestis e Transexual em São Paulo

Pedro Mello, Secretaria Municipal de Saúde de Piracicaba, visita em conjunto com o Conselho Municipal de Atenção a Diversidade Sexual, nesta quarta-feira (14|08|2013) AS 12h, o Ambulatório Estadual de Saúde Integral para Travestis e Transexual, para tomar conhecimento da sua estrutura e funcionamento, bem como estar estudando a viabilidade de implantação de um ambulatório de mesma natureza em Piracicaba.

HISTÓRIA DO AMBULATÓRIO: TUDO COMEÇOU

ASSIM…

O Ambulatório de Saúde Integral de Travestis e Transexuais do CRT DST/Aids, 1º do Brasil, foi inaugurado em 9 de junho de 2009. Segundo Maria Clara Gianna, Coordenadora do Programa Estadual de DST/Aids-SP, “nós já havíamos identificado a necessidade de se ter uma estratégia de trabalho para a população de travestis e transexuais. Durante a elaboração do Plano Integrado de Enfrentamento da Feminilização da Epidemia de DST/Aids a gente tem a inclusão das transfemininas no plano, porém ficou a pergunta de como executar isso. Algum tempo depois, durante a Conferência Nacional de Direito LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) o movimento sinalizou que as questões de saúde da população de travestis e transexuais extrapolam a temática de DST/aids”, explica Maria Clara.

Em paralelo a isso, no início deste ano o secretário de Saúde de São Paulo, Luiz Roberto Barradas Barata, convoca a diretora do Programa de DST/Aids, e diz que é o momento de implementar um serviço específico para esta população. De acordo com Maria Clara, a Secretaria de Saúde indica o CRT DST/Aids como o local ideal para a implantação deste serviço, uma vez que a equipe lida historicamente com grupo mais vulneráveis. A brecha estava dada, agora era preciso criar um ambulatório que de fato atendesse às necessidades dos travestis e transexuais. A Equipe do Programa tinha receio da aceitação do movimento, pois o fato do Ambulatório de Saúde Integral estar dentro de um Centro de Referência em DST/Aids poderia aumentar o estigma de associar este grupo à epidemia. Na primeira reunião houve certa dúvida. Mas depois as lideranças acharam interessante o CRT encampar este serviço, pois a equipe conhece e está acostumada a trabalhar com este público. Com a proposta aceita pelo movimento, começou o desenho de como seria o ambulatório e quais as especialidades médicas eram necessárias.

Em conversas com representantes do movimento LGBT e a equipe do Centro de Referência da Diversidade, CRD, da Prefeitura de São Paulo em parceria com a ONG Pela Vidda-SP, as principais queixas apresentadas foram sobre a demora na cirurgia de redesignação sexual, a hormonoterapia para travestis, prótese de silicone, complicações com uso de silicone industrial, dificuldade ao acesso de serviços de saúde devido ao grande preconceito, a questão das bombadeiras (indivíduos que aplicam o silicone industrial), a necessidade de adequar a voz a nova identidade, entre outros. Um outro fator que ajudou no processo de implantação do serviço foi um artigo do médico Dráuzio Varella, publicado em 11 de maio no jornal Folha de S. Paulo, sobre as dificuldades enfrentadas pelas travestis que, segundo ele, são o grupo que mais sofre discriminação. “Se fosse possível juntar os preconceitos manifestados contra negros, índios, pobres, homossexuais, garotas de programa, mendigos, gordos, anões, judeus, muçulmanos, orientais e outras minorias que a imaginação mais tacanha fosse capaz de repudiar, a somatória não resvalaria os pés do desprezo virulento que a sociedade manifesta pelos travestis.” No dia da inauguração do Ambulatório de Saúde Integral de Travestis e Transexuais estiveram presentes no CRT DST/Aids o governador José Serra e os secretários Luiz Roberto Barradas Barata, da Saúde, e Luiz Antonio Marrey, da Justiça, além de Alessandra Saraiva, representante das Travestis e Transexuais de São Paulo. Na ocasião, Serra reafirmou o compromisso de seu governo “com os direitos humanos e individuais. Então, nesse sentido, nós trabalhamos para todos e para todas. Todas as pessoas são consideradas, por nós, cidadãs. E, portanto, devem merecer serviços públicos e devem ser defendidas da discriminação, das agressões, do tráfico e de tudo mais”. De acordo com Alessandra, a palavra de ordem da iniciativa do ambulatório é acolhimento. “No ambulatório, travestis e transexuais terão um lugar onde podem ter a certeza e a tranquilidade de que não serão discriminadas de maneira nenhuma. E que encontrarão uma equipe 100% preparada para atendê-las. É um estímulo para que elas possam cuidar melhor da saúde. Há um ganho para todos. Só quem perde é o preconceito”, considerou o secretário de Estado da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata.

AMBULATÓRIO HOJE:

Quatro meses após a inauguração, o Ambulatório de Saúde Integral de Travestis e Transexuais do CRT DST/Aids tem 180 usuários cadastrados e já realizou mais de 400 atendimentos. A equipe é composta por: clínico geral, urologista, proctologista, ginecologista, endocrinologista, psicólogo, psiquiatra, assistente social, educador em saúde, fonoaudiólogo, dentista, cardiologista e oftalmologista.Por ser tudo muito novo, os profissionais do ambulatório vão abrindo novas frentes de trabalho conforme as demandas vão surgindo. De acordo com Rosa de Alencar Souza, gerente de Assistência do Programa Estadual de DST/Aids-SP, “o Ambulatório já estabeleceu uma parceria com o Hospital Estadual de Diadema para a retirada de silicone industrial e encaminhou um documento à comissão de bioética do CRM para poder liberar a prescrição de hormônios para as travestis. Fora isso, está em negociação com o Hospital Heliópolis para a cirurgia de implante de silicone e com o Hospital de Jundiaí para a cirurgia de redesignação sexual”. Outra conquista do Ambulatório foi a parceria com o Hospital das Clínicas, possibilitando a ampliação em quatro vezes do número de cirurgias de redesignação de sexo realizadas no complexo. Com a mudança, o HC ganha capacidade para realizar, em média, uma cirurgia desse tipo por mês.

A questão da retirada do silicone industrial é um problema sério de saúde enfrentado por esta população. “Ele pode provocar infecçãono momento em que é aplicado, causar úlcera, escorrer para outras partes do corpo, originar problemas circulatórios, além de deformidade no local da aplicação. Tem pessoas que até morrem durante a aplicação ou logo depois”, explica Silvia Pereira Goulart, médica do ambulatório. Segundo Maria Filomena Cernichiaro, diretora do serviço, “a possibilidade de remover o silicone industrial, que gera deformidades físicas graves, é fundamental para o resgate da saúde e da auto estima dos pacientes”. Infelizmente, nem todas as meninas que sofrem com o problema conseguem ser encaminhadas à cirurgia. Isto porque, segundo Silvia, quando o silicone se infiltra no músculo, não tem como retirá-lo. Os primeiros usuários do serviço foram encaminhados para a equipe de cirurgia plástica do Hospital de Diadema em agosto. O grande desafio do ambulatório, na opinião de Rosa, é a questão da criação de protocolos de cuidados em relação às demandas de travestis. “Para as transexuais, apesar de enfrentarem problemas de ampliação ao acesso das cirurgias de redesignação sexual, existem portarias no CFM e no SUS. Elas podem receber hormônios, por exemplo. Já a hormoterapia para travestis ainda é uma questão a ser resolvida, assim como o implante de silicone. Hoje nós não podemos prescrever esta substância para elas.”Fora estas questões, o ambulatório tem um objetivo maior que é a inclusão da população de travestis e transexuais no SUS. “Nós não queremos criar ambulatórios de referência em todo o Estado. Nós queremos, sim, facilitar para que este processo aconteça dentro da rede. O compromisso com o movimento LGBT é de que o nosso serviço ajude a incluir o cuidado desta população dentro da rede de atenção básica. Queremos irradiar cidadania e respeito a esta população no SUS”, explica Maria Clara.

Fonte: http://www.tiagoduque.com/bandeira.pdf