Quem busca orientação para usar hormônio e prótese acha serviço em SP.
Utilização errada das substâncias pode gerar câncer e riscos para a saúde.
Lideranças do Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual de Piracicaba (SP) se mobilizam para a instalação no município de uma clínica médica específica para atendimento de travestis e transexuais. Atualmente, quem precisa de orientação para o uso de hormônios ou a colocação de silicone, por exemplo, encontra serviço especializado em São Paulo (SP).
A transexual Luciana Stocco, de 33 anos, integrante do conselho, encabeça o trabalho de mobilização na cidade. Na segunda-feira (8), ela irá conhecer o funcionamento do Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais, na Vila Mariana, na capital, em busca de referência.
Outros representantes do conselho e também da Câmara vão acompanhar a visita ao departamento, inaugurado em 2009 pelo governo estadual e reconhecido como pioneiro no Brasil. “A ideia é entender como o atendimento é feito, em todos os níveis, e propor serviço semelhante em Piracicaba”, disse a transexual.
Hormônio e silicone
Com o ambulatório, o principal problema a ser combatido é o uso inadequado de hormônios e de silicone industrial por travestis e transexuais que buscam ter formas femininas. “O uso errado dessas substâncias pode gerar cânceres e outros riscos à saúde, por isso a necessidade de orientação”, disse Luciana.
A integrante do conselho defende que o acompanhamento médico nesta fase evita problemas futuros, que podem custar caro para o sistema público de saúde. “É mais barato oferecer atendimento adequado a este público em vez de pagar, no futuro, por cirurgias reparadoras e tratamentos de saúde mais complexos”, disse.
Luciana fala da situação com conhecimento de causa. Quando tinha 19 anos, utilizou superdosagens de hormônios e, anos mais tarde, injetou quatro litros de silicone industrial nas nádegas e no quadril. “Eu sabia dos riscos, mas por falta de orientação na época me submeti às aplicações clandestinas. Por sorte, não sofri complicações. Mas, infelizmente, tem muita menina que morre nessas circunstâncias”, relatou.
Indicação ao Executivo
Na segunda-feira (1), o vereador Gilmar Rotta (PMDB) protocolou indicação na Câmara para que o Executivo estude a criação de uma clínica em Piracicaba nos mesmos moldes da que atende na capital. “O ambulatório ofereceria acolhimento para a identificação das demandas e a garantia de acesso a serviços como orientação, prevenção, palestras, avaliações psicológica e médica, além de exames”, escreveu o vereador no documento, que será votado em plenário.
Para o presidente do Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual, Bruno Campos, o apoio político é importante para que a demanda tenha condições de ser atendida pelo governo. “Trata-se de uma questão de saúde pública”, afirmou.